Peixes são o objetivo final de quase todos os aquaristas marinhos, mesmo os que pretendem ter uma comunidade mista com corais e outros invertebrados. O maior problema, no entanto, é escolher
quais peixes colocar no aquário, como adapatá-los ao novo ambiente, e como combinar as várias espécies disponíveis nas lojas.
Este será o primeiro de uma série de artigos que tratarão de peixes no aquário marinho.
Espécies
Existe uma infinidade de peixes à disposição nas lojas de aquários, e se estão lá, servem para a aquários. O problema é que nem todos servem para qualquer aquário, e fica fácil perceber quando os sinais são óbvios; peixes grandes não podem - ou não deveriam - ser colocados em aquários pequenos demais para eles. Em relação ao tamanho, além do bom senso, deve-se utilizar

Premnas biaculeatus, peixe que ocupa pouco espaço no aquário
uma regrinha simples; se o peixe em questão mede no mínimo 5 vezes menos do que o comprimento total do aquário, ele se adaptará bem.
Considerando que nenhum aquário deve ser mais estreito do que
uma terça parte do seu comprimento, o volume final comportará o peixe, que poderá nadar calmamente no aquário, sem parecer enclausurado ou estressado por falta de espaço.
Estresse é, certamente, o maior causador de problemas em peixes.
Invertebrados geralmente não sofrem estresse, a não ser que as condições de manuseio e química da água sejam realmente críticas.
Também parece haver certo grau de consciência do peixe, animal superior aos corais evolutivamente. O peixe demonstra estresse manifestando doenças. Parasitismo, por exemplo, parece surgir do nada em peixes que na loja pareciam saudáveis, e isso quer dizer que o animal já era portador do problema, que se manifestou apenas quando sua resistência orgânica baixou consideravelmente, tornando-o fraco e incapaz de responder ao problema com suas próprias capacidades orgânicas.

Acanthurus sandwichensis, muito ativo, precisa de bastante espaço para nadar.
Existem também problemas de compatibilidade; peixes de uma mesma espécie geralmente se agridem mutuamente, a não ser que exista espaço suficiente para todos. É muito comum adicionarmos um peixe a um aquário que já possua outros de um mesmo gênero, e o recém-chegado ser perseguido até a morte. Muitas espécies de peixes são territoriais quando em fase juvenil, passando a nadar em cardumes apenas quando adultos. Um exemplo disso são os peixes cirurgião. A escolha por esses peixes é muito comum, pois ajudam a limpar a alga do aquário em sua fase inicial e são bastante resistentes. O que não se leva em consideração é que esses peixes precisam de muito espaço para nadar e são agressivos até com peixes que não pertecem à sua
família. A adição de peixes ao aquário deve, portanto, ser bem planejada e preparada.
Compatibilidade entre peixes e os outros habitantes do tanque também é importante; não se deve colocar num mesmo tanque peixes pequenos como Chromis spp e garoupas, tridacnas spp e peixes gatilho em geral, e outras combinações desastrosas. O objetivo é evitar predação entre os habitantes do aquário, perda de dinheiro e a eventual poluição da água do tanque.
Quando bem alimentados, peixes costumam crescer bastate rápido, e muitas espécies possuem comportamentos distintos em
suas várias fases; alguns se alimentam de algas e esponjas quando jovens, e se tornam ávidos comedores de corais e outros invertebrados após crescerem.
Peixes, então, tornaram-se os animais mais complicados de se manter em aquários. A seguir, veremos vários tópicos que visam facilitar a manutenção de espécimes saudáveis num aquário comunitário.
Quarentena
É até bobagem insistir, principalmente porquê muita gente do próprio mercado não sugere, mas é muito importante manter uma
quarentena. O problema de não se propagar a idéia da quarentena reside no fato de, após decidir comprar um aquário, o cliente
tem que resolver montar dois. O segundo é a detestada quarentena. A quarentena serve para abrigar os peixes recém chegados,
que demorarão algum tempo para começar a se alimentar dos ítens oferecidos pelo aquarista, para que se verifique o estado de
saúde do peixe, e para que ele recupere suas forças a fim de ser introduzido num aquário onde, certamente, terá que competir
por espaço e alimento. Um aquário de dimensões reduzidas abrigará um peixe por vez, e às vezes, nem mesmo um peixe de maior tamanho. Pode-se montar uma quarentena tão pequena quanto 50 ou 60 litros, pois quanto menos água no sistema, mais fácil fica trocar água, colocar remédios e interferir no andamento do aquário de maneira geral.v
Uma quarentena eficiente tem que ter a temperatura controlada, sendo necessário um aquecedor com termostato de boa qualidade;
a circulação de água deve ser eficiente para oxigenar a água, e deve haver um esconderijo para o peixe. Não é necessário colocar luz nesse aquário, mas uma fonte de luz ajuda a identificar problemas de pele no peixe.
Tratamentos devem ser conduzidos de maneira apropriada, sendo que nunca se deve introduzir um peixe após iniciar o período de
quarentena de um outro; se isso for absolutamente necessário, a quarentena deve ser reiniciada.
Toda vez que um peixe sair da quarentena para o aquário, ela deve ser esvaziada e limpa. O filtro que se utilizar para prover o aquário
de biologia pode ser colocado à parte com um pouco da água antiga, e o aquário e todos seus componentes devem ser muito bem limpos.
Esse simples procedimento evita a infecção de novos peixes com um eventual patógeno de um antigo; alguns seres
patogênicos de peixes podem sobreviver por algumas horas fora da água salgada.
Não há necessidade de substrato na quarentena, pois isso ajudaria a juntar sujeira, e num volume de água reduzido, qualquer
quantidade de poluentes conta prejudicialmente.

Lionfishes se adaptam perfeitamente a aquários, mas são muito sensíveis a infecções bacterianas no início.
O período de quarentena por que passa cada peixe deve ser de duas a três semanas. A temperaturas entre 24 e 26oC, certas doenças podem demorar de 7 a 10 dias para se manifestar. Na eventualidade do peixe se apresentar bem durante o período de uma a duas semanas, pode-se passá-lo para o aquário definitivo. Se ficar doente durante a quarentena, deve ser tratado de acordo com a necessidade e, após duas semanas depois de curado, ser passado para o aquário.
A prática de uso de quarentena é muito útil não apenas para o peixe novo; também previne o ingresso de problemas no aquário principal.
Colocar peixes direto no aquário principal, vindos direto da loja, pode ser arriscado.
Algumas lojas possuem quarentena, e quando o peixe está disponível para a venda, já passou por um período de observação e eventual tratamento. O lojista honesto geralmente "conduz" a venda para os peixes que estejam saudáveis, às vezes se recusando a vender peixes que não considere em ordem. Explique sempre a condição e os equipamentos de seu aquário, a fim de colocar o lojista a par, e ele provavelmente lhe ajudará muito. Por lidar com seres vivos, no entanto, dificilmente haverá certeza absoluta por parte dele do que pode acontecer com seu peixe no aquário, portanto, use também seu bom senso e olho clínico.
Como comprar peixes
Existem algumas condições que ajudam a identificar peixes em estado não ideal em lojas;
1 - Peixe que não come pode dar trabalho, e às vezes se recusar a comer definitivamente no aquário. Sem comer, morre, portanto
não existe problema algum em pedir a seu lojista que ofereça alimento ao peixe que deseja comprar. Peixes são animais muito curiosos, e têm fome atávica; mesmo que tenham comido há pouco, sempre se interessarão por mais alimento. Excessões se aplicam se, por exemplo, o lojista tiver acabado de oferecer artêmia viva aos peixes, e você queira que ele lhes dê flocos.
Dificilmente um peixe que acaba de se fartar de artêmia come flocos. Artêmia é excelente fonte de proteína e beta caroteno, e os peixes se interessam muito por ela, seja por seu movimento, cor ou odor.
2 - Palhaços, donzelas, centropyges e pomacantídeos, lionsfishes, acanturídeos, e muitas outras famílias de peixes sempre mostram
estar em boa condição quando suas barbatanas e nadadeiras estão sempre "abertas". Palhaços com a dorsal "murcha", por exemplo, certamente estão doentes.

P. tetrataenia, muito resistente e ótimo habitante de aquários comunitários; calmo, pequeno e ativo.
3 - Peixes com manchas brancas, pretas ou vermelhas, escaras ou machucados abertos, olhos esbranquiçados e nadadeiras ou
barbatanas rasgadas, com partes faltando ou mesmo muito estragadas, apresentam problemas óbvios. Partes faltando em nadadeiras são problema menor; geralmente se recompõem em poucos dias e são frutos de escaramuças no aquário da loja.
Os outros problemas são graves e deve-se evitar peixes que os apresentem.
4 - Peixes magros demais podem não comer desde que foram capturados. em condição crítica, as paredes do intestino do animal
colam, e o peixe fica incapacitado de comer. Esse tipo de constipação não é tão raro quanto parece, e muitas vezes essa condição é atribuída a outras causas erroneamente. Peixes acumulam gordura por todo o corpo, mas principalmente no espaço logo acima e atrás dos olhos, na direção da dorsal. Se o peixe estiver murcho na barriga e nesse lugar, é melhor evitá-lo.
5 - Geralmente, peixes de recife de corais são muito ativos e curiosos; um animal apático e deitado sobre o fundo do aquário da loja certamente não vai bem.
6 - A respiração do animal deve ser pausada e calma; peixe que fica obsessivamente subindo e descendo na corrente d'água
provavelmente tem problema de parasitismo. O mesmo para animais que ficam alinhados com a saída da bomba d'água do tanque,
com a boca direcionada para o fluxo mais forte. Excessão quando acabou de comer; sempre ficam ofegantes nessas ocasiões.
7 - A cor do peixe deve seguir suas características específicas; peixes desbotados ou escuros demais devem ser observados mais atentamente. Alguns ficam momentaneamente pálidos ou escuros quando assustados ou nervosos. Logo, a cor normal é retomada. Se o peixe passa muito tempo com a cor alterada, deve ser evitado.
CONTINUA
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Ricardo Miozzo
Colaborador de Aquarismo Marinho