Quando montamos um aquário de rochas vivas, é muito importante prestar atenção ao movimento de água que o aquário terá.
Através de anos experimentando diversas formas de montar aquários, cheguei a um modelo basicamente à prova de problemas.
Esta série de artigos tratará de como montar o aquário, e o passo a passo até ele estar pronto para receber os corais vivos.
Pode-se montar um aquário com os equipamentos mais sofisticados do mercado, mas se o próprio aquário for mal projetado, ocorre um fracasso ou o aquário dá tanto trabalho que passa a ser uma chatice ao invés de diversão.
Nesta série, não recomendarei produtos específicos nem discutirei qual produto e de que modelo usar para cada aquário.
Seria tão trabalhoso fazer isso, que precisaríamos de um livro.
Seguirei, sim, regras gerais que encontrei para construir aquários de qualquer tamanho.
Bomba Principal
A maioria dos aquários desse tipo tem volume considerável, portanto uma bomba d’água de considerável potência é geralmente aplicada.
Essa bomba é denominada "bomba principal" do aquário, pois colocará a água retida no aquário propriamente dito em contato com a água de um reservatório, onde se localiza o equipamento de suporte.
O reservatório do aquário foi desenvolvido numa época em que se precisava de uma determinada quantidade de equipamentos para o aquário que, se colocada à vista das pessoas, costumava incomodar.
Seja qual for seu posicionamento, sempre serve para esconder o skimmer, pré-filtros, aquecedores, e outros equipamentos que sejam necessários.
Logo se percebeu que era muito importante coletar água de superfície para que fosse tratada pelo skimmer. É nessa região que se concentram os surfactantes, importantes compostos a serem extraídos pelo skimmer. Uma característica "poeira" que se acumula na superfície de aquários sem coletor de superfície evidencia a presença de surfactantes. Esse "filme" de matéria orgânica prejudica a troca de gases do aquário com o meio.
A bomba principal do aquário tem por função, portanto, transportar água do aquário para ser tratada no reservatório, e vice-versa.
Da época do aquarismo com filtro de dry-wet, herdou-se a prática de usar uma bomba confiável e de altíssima vazão. Para filtros desse tipo, quanto mais potente a bomba, maior seria o volume de água passando pelo filtro.
Para aquários de corais vivos, no entanto, a bomba principal do aquário não precisa ser tão forte, apesar de necessariamente confiável.
Se o aquário se utilizar de um resfriador, a bomba precisa ter mais pressão de saída, ou capacidade de elevação de água, do que se levasse a água sem passar por um aparelho desse tipo.
De qualquer forma, não é necessário usar bombas de vazão superior a 2 vezes o volume do aquário por hora.
O importante é que o fornecimento de água seja constante, de maneira a não haver oscilação nos níveis de água do aquário e do reservatório.
Construção do coletor de superfície
O coletor de água da superfície tem que ser construído de maneira que não provoque problemas por um longo período de tempo. O ideal seria que nunca desse problema.
Existem duas maneiras de se posicionar o coletor; uma, por dentro do aquário, e outra, por fora.
Se for colocado por dentro do tanque, é necessário furar o vidro inferior e instalar uma flange. Através da flange a água fluirá por tubos que a levarão para o reservatório. Se o reservatório for atrás ou ao lado do aquário, não há necessidade de flange, mas de um recorte no vidro que faça com que a água flua na direção do reservatório.
Um prolongamento de tubo ou uma construção de vidro que vá até o nível de superfície da água fará com que se estabeleça um nível, a partir de onde a água flui. É importante notar que quanto mais forte for a bomba principal do aquário, maior será a diferença de nível de água dentro do tanque, tomando-se por base quando a bomba estiver ligada ou desligada. Por causa disso, deve-se deixar boa margem de espaço entre as travas do aquário e o nível do vertedouro, para não haver transbordamento para fora do aquário. Uns 4 ou 5 centímetros costumam ser suficientes.
Fig. 1

Caso se opte por instalar o vertedouro por fora do aquário, pode-se fazer um furo num dos vidros laterais, instalar uma flange ou construir uma caixa de vidro por onde a água escorrerá até o reservatório.
Esta opção é mais trabalhosa, mas é sempre bom evitar furos no vidro do fundo do aquário.
Lembre-se; um aquário deve ser projetado para durar 15, 20 anos !
O tubo de caída da água deve ser superdimensionado em diâmetro para evitar problemas, e por conseqüencia, a flange deve ser bem grande.
Geralmente, flanges de 1" dão vazão a 4.000 L/h de água sem problema nenhum.
A água cai para o reservatório e normalmente produz uma quantidade razoável de bolhas. Uma parte delas é de tamanho reduzido, por isso deve-se tentar evitá-las. Essas microbolhas podem causar problemas aos corais.
Para se evitar problemas de bolhas, muitas vezes basta construir uma solução simples com alguns tubos, conforme a figura abaixo.
Fig. 2

A água cai pelo tubo que tem na ponta uma curva com adaptação para um "t" de diâmetro maior do que o tubo usado para a queda d’água. Dessa maneira, as bolhas são pulverizadas antes de entrar na água. A maioria delas é então eliminada.
O mesmo procedimento serve se o reservatório for ao lado ou atrás do aquário.
Como a bomba principal do aquário não é superdimensionada, não há formação de bolhas em excesso e o sistema as dilui.
Nunca instale qualquer válvula de retenção no vertedouro !
Muita gente faz isso, para equilibrar o volume de água que cai pelo vertedouro e assim eliminar barulho. O risco de fazer isso é um dia encontrar o aquário transbordando por causa de oscilações de corrente elétrica.
Para eliminar o barulho, bastam alguns bioballs ou outro meio qualquer de obstruir parcialmente o vertedouro, diminuindo assim a velocidade de queda da água.
Se for necessário diminuir a vazão da bomba, instale uma válvula na saída da água da bomba.
O uso de válvulas de retenção é muito perigoso. Pode haver oscilação na corrente elétrica, ou entupimento da válvula. Evite-as a qualquer custo.
Retorno de água
O retorno de água da bomba para o aquário deve ser construído de forma que a bomba devolva água na superfície do aquário. O fluxo deve ser direcionado para os lados ou para a frente, nunca virado para o fundo.
Novamente, evite furos no vidro, e faça conforme a figura abaixo.
Fig. 3

Dessa maneira, não se usa uma válvula sequer, e não se faz mais que um furo no aquário.
Usar mangueiras flexíveis para conectar a bomba aos tubos de PVC é uma boa idéia. Toda bomba vibra, e usando a borracha da mangueira como amortecedor, diminui-se muito o barulho causado pela vibração.
Se a bomba desligar, a água volta ao reservatório até o tubo de descarga encher de ar.
O fluxo de água pode ser medido colocando a bomba principal para funcionar e recolhendo-a num recipiente de volume conhecido. Marca-se o tempo necessário, e faz-se uma conversão para encontrar a vazão em litros por hora.
Por exemplo; se a bomba enche um recipiente de 20 litros em um minuto;
20 L = 1 minuto
x L = 1 hora
1 hora = 60 minutos
Vazão = 60 x 20 = 1.200 L/h
Isso seria suficiente para um aquário de 500 a 600 litros.
Se a bomba estiver ligada a um resfriador, será necessário observar a vazão recomendada pelo fabricante do aparelho, mas geralmente elas se adaptam a estas regras.
Construindo o aquário dessa forma, não há necessidade de nenhuma válvula, a não ser na bomba, para o caso de ser necessário desconectá-la.
O reservatório
O reservatório do aquário deve ser o mais espaçoso possível.
Tem de caber tudo o que você planejou, e eventualmente mais alguma coisa, por isso procure fazer de maneira a ter o máximo de espaço livre.
Geralmente instalamos ali o skimmer, o aquecedor, e deixamos espaço para colocar sensores e carvão ativado.
O mais simples e óbvio é o que funciona melhor; faça uma caixa de vidro do maior tamanho possível, livre de qualquer obstáculo.
O reservatório tem que conter a água que cai do aquário se a bomba principal desligar, por isso deve-se proceder ao seguinte cálculo de volume:
Um aquário de 150 x 50 centímetros possui um vertedouro que coleta água com uma diferença de 3 centímetros entre o vidro do vertedouro e a superfície da água.
Isso implica num volume de 22,5 litros, pois 3 x 150 x 50 = 22,5.
Se o reservatório tiver 100 x 50 x 50 centímetros, o nível da água dentro dele deve ser de, no máximo, 30 centímetros, pois os 22,5 litros de água do aquário farão com que o nível de água suba 4,5 centímetros no reservatório; 30 + 4,5 = 34,5 cm.
Como o reservatório tem 50 cm de altura, não transbordará. Haverá ainda uma folga de 15,5 cm como margem de segurança.
Sem colocar nenhum obstáculo à água em sua passagem pelo reservatório, praticamente não há possibilidade de que cheguem bolhas à entrada da bomba principal, causando um dos maiores transtornos do aquarista; as microbolhas.
Quando uma bomba coleta uma bolha, pulveriza-a em milhões de minúsculas bolhas, que têm enorme dificuldade de atingir a superfície e se desfazer. São tão pequenas, que sua flutuação é fraca. Por isso, flutuam pelo aquário inteiro.
Quanto mais bolhas, mais bolhas serão pegas pela bomba, e estabelece-se o inferno.
Pior; só se descobre que o aquário tem esse problema quando se acendem as HQIs, pois enquanto não há uma fonte de luz bem forte, é virtualmente impossível ver as bolhinhas passeando pelo aquário, dado seu tamanho diminuto.
Quando se coloca qualquer obstáculo à água, apenas consegue-se aumentar sua velocidade dentro do reservatório, e as bolhinhas chegam à bomba.
Com as soluções apresentadas até aqui, é 99% garantido que não haverão problemas desse tipo.
Repare; não há necessidade de usar préfiltros ou qualquer outro material que suja a água. Préfiltro só pode ser usado por alguns dias seguidos. Depois, tira-se o material para lavar ou substituir. Da maneira que descrevo aquí, não há necessidade de usar nada disso.
A sujeira do aquário vai naturalmente acumular em algum lugar do reservatório, e pode ser sifonada quando se efetuar trocas de água
http://www.aqua.brz.net
Ricardo Miozzo
Colaborador de Aquarismo Marinho